Inaugurando a programação artística de 2025, a Galeria Marco Zero, localizada em Boa Viagem, apresenta a exposição “Serpentário”, nesta quarta (29), às 18h. A mostra reúne trabalhos de Bruno Vilela, Giovanna Simões e Juliana Lapa, com curadoria assinada por Bruna Rafaella Ferrer e fica em cartaz até o próximo dia 28 de fevereiro
Com curadoria de Bruna Rafaella Ferrer, mostra coletiva reúne trabalhos de Bruno Vilela, Giovanna Simões e Juliana Lapa
Inaugurando a programação artística de 2025, a Galeria Marco Zero, localizada em Boa Viagem, apresenta a exposição “Serpentário”, nesta quarta-feira (29), às 18h.
A mostra reúne trabalhos de Bruno Vilela, Giovanna Simões e Juliana Lapa, com curadoria assinada por Bruna Rafaella Ferrer e fica em cartaz até o próximo dia 28 de fevereiro
A partir de simbologias ligadas ao universo das serpentes, a exposição aborda a poética e pesquisa dos três artistas pernambucanos, entre pontos de encontros e particularidades.
Em caminhos sinuosos, que rejeitam dicotomias e convidam o público a refletir sobre temas como a passagem do tempo, a inevitabilidade da mudança, a ficcionalização, construção de contranarrativas e de paisagens externas e interiores.
Coletivo
Na exposição, Giovanna Simões apresenta as pinturas originais das 22 cartas do Tarô Aurora, criadas ao longo de dois anos, no que ela classifica como um processo profundo de autodescoberta e conexão espiritual.
Juliana Lapa apresenta 20 trabalhos, entre desenhos e pinturas estratigráficas. Em grande parte das obras, protagoniza as composições o corpo feminino-paisagem.
Por fim, as 19 obras que Bruno Vilela dão continuidade a uma investigação interessada em fenômenos ópticos e podem ser pensadas em dois grandes grupos: as séries “Nuvens Estranhas” (formada por duas pinturas a óleo monocromáticas em vermelho urucum) e “7 mares” (com sete telas em óleo azul ultramar e, no verso, desenhos cartográficos em carvão e chassis de madeira aparentes).
Arte e psicanálise
Em uma década de amizade, eles compartilham interesses comuns, como a relação entre arte, espiritualidade e psicanálise, com investigações dos mitos ancestrais e do inconsciente. “Serpentário” surge, então, como um processo colaborativo.
As obras são, em sua maioria, pinturas inéditas com o que vêm sendo investigado pelos artistas há alguns anos, além de pesquisas mais recentes.
“Representada por Asclépio, deus grego da medicina acompanhado por uma serpente, a constelação vaga os céus ocupando uma região de fronteira entre os elementos fogo e água, onde a serpente representa tanto o poder de cura e a busca por saber, quanto a possibilidade de destruição, de imagens que condicionam e insistem em governar o sentido de realidade”, explica a curadora Bruna Rafaella Ferrer.
Pesquisa
Com assistência de George Henrique Pereira, historiador e pesquisador, os estudos para "Serpentário" foram dilatados em conversas e intercâmbios de ideias que acontecem de forma sistemática desde julho de 2024.
A imagem da serpente e suas várias simbologias foram dispositivos para pensar a expografia de forma sinuosa, sensual e misteriosa, como o próprio animal.
Não foi casual a data de abertura da exposição, coincidindo com o início do Ano da Serpente no calendário chinês. O título remete também ao conjunto de estrelas homônimo que, na simbologia astrológica, habita um lugar transitório.
“Representada por Asclépio, deus grego da medicina acompanhado por uma serpente, a constelação vaga os céus ocupando uma região de fronteira entre os elementos fogo e água, onde a serpente representa tanto o poder de cura e a busca por saber, quanto a possibilidade de destruição, de imagens que condicionam e insistem em governar o sentido de realidade”, explica a curadora Bruna Rafaella Ferrer.“
A serpente também está envolta nesta atmosfera de perigo e de mistério. Passa por ideias de dualidade (o veneno, mas também o antídoto, por exemplo), mas não de dicotomia.
E a exposição passa por este lugar de respeito às individualidades dos projetos artísticos dos três, ao mesmo tempo em que encontra confluências de interesses. Nesta ‘cozinha da pintura’, cada um trouxe suas substâncias e ferramentas, propondo uma grande alquimia de materiais e um aprendizado coletivo.”
Obras na visão dos artistas
“Para mim, a arte é reflexo de um processo espiritual, de uma busca que me acompanha há muito tempo. Trabalhar ao lado de Bruno e Juliana nesta exposição é um momento especial, porque além de artistas, somos amigos muito próximos há mais de 15 anos. Sempre houve uma troca intensa entre nós, seja artisticamente, como ao posar um para o outro, compartilhar técnicas ou espiritualmente, discutindo nossas vivências e estudos. Essa conexão profunda se reflete nas nossas obras, que dialogam entre si de forma única. Expor juntos é a realização de um sonho e carrega uma força mágica que traduz a essência da nossa amizade e troca”, afirma Giovanna.
“São trabalhos onde vou revelando em camadas as histórias e situações que surgem num processo de sonhar desenhando. Uma maneira intuitiva de produção de imagens que deságuam em temas sobre o feminino, a violência, o sonho e o espírito. Iniciei esse diálogo com Bruna Rafaella, que foi curadora da minha última individual e vem acompanhando meu trabalho de perto e, agora, junto com George. E tem sido muito rico, pois acompanho também os sentidos que eles vêm desdobrando no meu próprio trabalho”, pontua Juliana.
“Os 25 dias que fiquei no México foram muito transformadores. Meu interesse pela luz, pela cor, já vinha de uma pesquisa da arte japonesa, que abordava bastante o céu, o pôr do sol e, um dia, em um mercado local, vi um tecido colorido, listrado, e nele identifiquei as cores da alvorada e do crepúsculo. Esses tecidos, os sarapes, são muito populares no México e também no Peru e na Colômbia e, nas minhas pesquisas, vi que as cores vêm deste entendimento da abstração que eles têm em relação ao nascer e ao pôr do sol. Nasceu, então, esta série que considero de pinturas a óleo abstratas neoconcretas, de influência modernista latina. As séries Nuvens Estranhas e 7 mares nascem de leituras mais políticas, como o livro As veias abertas da América Latina, também com influência do realismo mágico”, explica Bruno Vilela.
Cadernos
Além das obras, o público terá acesso aos processos criativos dos três criadores, por meio de cadernos e diários, evidenciando as referências de cada um. Como pontuou a curadora, se a colaboração aconteceu em uma espécie de “cozinha da pintura”, essas obras são como livros de receita sem a intenção de ensinar como fazer, mas sim de apresentar os ingredientes, texturas, cores e sensorialidades de cada produção.
No caso de Bruno, o caderno tem um caráter mais parecido com um diário de bordo, capturando as experiências de sua viagem ao México, grande influência de seu trabalho mais recente. O caderno de Juliana apresenta desenhos, esboços e ideias dos projetos, com referências que ajudam a entender mais sobre o seu fazer artístico. Por fim, Giovanna Simões lançará a publicação de Tarô Aurora, uma espécie de livro de artista focado no projeto.
SERVIÇO
Exposição "Serpentário"
com Bruno Vilela, Giovanna Simões e Juliana Lapa
Onde: Galeria Marco Zero - Avenida Domingos Ferreira, 3393, Boa Viagem, Recife - PE
Abertura: 29 de janeiro de 2025, às 18h
Visitação: segunda a sexta-feira, das 10h às 19h; sábado, das 10h às 17h
Entrada franca
Informações: (81) 98262-3393
Instagram: @galeriamarcozero