“Juliana Notari: Spalt-me” passa a limpo os quase 25 anos de carreira da recifense conhecida por seus trabalhos tão provocativos quanto sensíveis. Primeira exposição individual da artista em sua cidade após oito anos, sendo a maior já realizada sobre sua obra, a mostra está aberta ao público no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (MAMAM).
“É um privilégio poder parar na sua trajetória em um certo momento, estando viva e em plena atividade, para analisar o que já foi feito com olhar crítico. Te dá uma compreensão do seu trabalho. É muito legal poder aprender com o próprio processo. Tem sido muito rico tudo isso”, aponta Juliana Notari.
Em cartaz até 1° de dezembro, a exposição tem como curadora a também pernambucana Clarissa Diniz, que dialoga com a produção de Juliana há mais de dez anos. “Claro que não dava para abarcar tudo na mostra, porque é muita coisa. Com a experiência dela, Clarissa foi mapeando as obras mais significativas e as questões mais importantes no meu trabalho”, explica.
Partiu da curadoria a proposta de dividir a mostra em três núcleos, que agrupam objetos, vídeos, desenhos, fotografias e performances assinadas pela artista, de acordo com as temáticas trabalhadas nelas.
“No térreo, a gente trata das questões do corpo: escatologia, sujeira, limpeza, vida, morte, alimentação. O primeiro ainda traz dois núcleos. Um deles fala da relação com a cidade, a arquitetura e o corpo social. Já o outro traz o corpo mais ligado às questões de gênero”, detalha.
Condizente com a ideia de revisitar obras anteriores, a exposição pega emprestado o título da série de fotografias “Spalt-me”, iniciada em 2009. Nas imagens, uma grande fenda vermelha - que pode remeter a uma ferida aberta ou, ainda, ao interior de uma vagina - surge encravada em paisagens diversas.
Para a nova exposição, Notari retomou “Spalt-me”, agora em formato de cartão-postal. Destas criações, 12 estarão disponíveis para que os visitantes possam levar para casa. As feridas desenhadas pela artista estão inseridas em lugares como a antiga sede do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), onde seu pai, João Roberto Peixe, foi torturado durante a ditadura militar. “São locais de grandes feridas coletivas, de traumas sociais grandes. Então, é um trabalho que ampliou esse corpo político e representa bem o momento atual”, aponta.
A abordagem proposta pela exposição não é somente retrospectiva, mas também prospectiva. Apontando para o futuro, Juliana leva ao MAMAM obras ainda inéditas, como “Parlamento Europeu” (2022-2024). “Fui convidada para fazer um discurso no Parlamento Europeu, em Bruxelas. Nessa ocasião, usei uma calça manchada com tinta vermelha, como se fosse sangue. Essa peça de roupa virou uma obra e estará exposta em um manequim”, conta.
Outra novidade é uma releitura de “Janta”, trabalho feito em 2001, vídeo em que Notari serve uma refeição luxuosa sobre uma mesa retangular forrada de cabelos humanos. Desta vez, além da mesa ser redonda, pelos de animais recolhidos em pet shops também são utilizados.
Não ficam de fora da mostra outras obras marcantes da artista, como a polêmica “Diva” (2020), escultura em forma de vulva realizada na Usina de Arte, na Zona da Mata Sul de Pernambuco, que gerou grande repercussão na época. A ideia, no entanto, é mostrar que a trajetória de Juliana Notari vai além de qualquer furor causado nas redes sociais.
Serviço:
Exposição “Juliana Notari: Spalt-me”
Quando: Até 1º de dezembro, quartas, quintas e sextas, das 10h às 17h; sábados e domingos, das 10h às 16h
Onde: Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (MAMAM) - Rua da Aurora, 265, Boa Vista
Entrada gratuita
Informações: @mamamrecife (Instagram)